sexta-feira, 22 de abril de 2016

CONCEPÇÕES DO BRINCAR


Na aula de LUDICIDADE E EDUCAÇÃO fomos convidadas a fazer a leitura do texto “Concepções do brincar na psicologia”, de Alysson Carvalho (2005). A partir da leitura pude destacar muitas ideias, as quais descrevo abaixo.

As abordagens teóricas do brincar e a relação entre o brincar e o desenvolvimento mais conhecidas na atualidade são a Psicanálise, o Construtivismo de Jean Piaget e a Psicologia histórico-cultural. O termo brincar pode se referir a um jogo, uma brincadeira de roda, a prática de um esporte, uma brincadeira individual em que a criança está representando cenas de adultos ou cenas do dia-a-dia com brinquedos como bonecas, carrinhos, panelinhas, sucatas, entre outros.
Segundo a Psicanálise, brincar também é uma forma simbólica de expressar nossos desejos, assim como o sonho e a fantasia. As experiências que a criança teve podem aparecer no brincar, ou seja, ela pode não querer brincar com o objeto que lhe causou algum tipo de dor ou sofrimento. O brincar pode ajudar a criança a compreender e a lidar melhor com a realidade, ela pode demonstrar, enquanto brinca, que pode ter controle de uma situação que na vida real não tem. Segundo Winnicott, o espaço de transição entre a experiência de sentir-se fundido e separado ao mesmo tempo, se a mãe conseguiu inspirar confiança no bebê, vai progressivamente sendo substituído por um objeto simbólico que o ajuda a lidar a ansiedade e com a angustia que a ausência de sua mãe provoca, pelo brincar e depois pelas experiências culturais. Mas o objeto simbólico perde seu sentido caso a mãe se afasta e não volta no momento certo em que sua lembrança pode ser garantida ou se não existe uma pessoa substituta de referência para o bebê, como, por exemplo, casos de morte ou de abandono. A criança, sem vivenciar esta experiência, torna-se incapaz de brincar. Winnicott salienta que brincar conduz aos relacionamentos grupais, é uma forma de comunicação e facilita o crescimento.
Piaget na teoria do construtivismo estuda a forma como construímos conhecimento, como criamos estruturas mentais enquanto nos desenvolvemos para compreendermos o mundo à nossa volta e que brincar e jogar relacionam-se com a construção dessas estruturas mentais. Quando a criança cria uma estratégia, por exemplo, de conseguir um brinquedo que está distante dela, modifica o meio externo e se modifica internamente: acomodação, assimilação e adaptação, conceitos básicos da teoria piagetiana. No período sensório motor (1 ano e meio a dois anos) a criança utiliza a motricidade e seus sentidos para atuar sobre o meio na exploração e deslocamento de objetos, imitando pessoas. A criança brinca com aquilo que já aprendeu, sedimentando as conquistas realizadas.  No período pré-operatório (1 ano e meio a 6 anos) a criança utiliza-se de um símbolo para representar a realidade – jogo simbólico. Dessa forma a criança reconstrói acontecimentos passados, compensa os indesejáveis e liquida conflitos. O jogo com regras (dos 8 aos 11 anos) é uma sucessão ao jogo simbólico em que a criança ingressa no período das operações concretas. Há uma evolução da relação da criança com a regra. Crianças mais velhas começam a compreender que regras surgem a partir dos acordos grupais e que valem para todos, dessa forma, podem experimentar situações democráticas.
Segundo a psicologia histórico-cultural, a interação da criança com membros mais experientes da cultura possibilita que as funções neuropsicológicas (memória, atenção e percepção) passem a um funcionamento de nível superior. A brincadeira representa o primeiro momento da construção da imaginação e da origem à vários processos psicológicos que são importantes para o desenvolvimento da criança. A brincadeira surge quando a criança toma consciência dos objetos sociais que o adulto manipula: a criança faz comida para as bonecas, brinca de casinha, dirige um carrinho de brinquedo, brinca de médico, de professora, enfim, brinca de faz-de-conta. Desta forma as crianças aprendem para que servem os objetos e permite que vá além do que pode realizar. A brincadeira proporciona a criança novas maneiras de compreender as relações sociais em que ela está inserida.
Quando a criança consegue resolver um problema sozinha, Vygotsky chama de nível de desenvolvimento real. Quando precisa da ajuda de terceiros, Vygotsky chama de nível de desenvolvimento potencial, ou seja, ela ainda não está pronta para resolver aquele tipo de situação. Para isso, a criança precisa de apoio externo para alimentar a formação de suas competências. A distância que existe entre o nível de desenvolvimento real da criança e o nível de desenvolvimento potencial, Vygotsky chama de zona de desenvolvimento proximal. A brincadeira proporciona a criação de uma zona de desenvolvimento proximal na medida em que favorece o surgimento de certos processos psicológicos e estimula outros que começam a se constituir.
Para a psicologia é importante conhecer a criança e seu brincar, pois ainda não existe um conceito único na área que defina o “brincar”. Para Winnicott, “brincar é um sinal de psiquismo saudável possibilitando que os sujeitos sejam mais criativos”.

O que isso tem a ver com a minha prática docente? Fica mais clara a ideia de que brincar não é perda de tempo e que é por meio da brincadeira, do ato de brincar que a criança começa a compreender a sociedade em que vive, desenvolvendo sua atenção, memória, concentração, raciocínio. Aprende a dar conta da situação que está enfrentando no momento, se torna uma criança que pensa, com autoconfiança e autocontrole. 

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