PAULO
FREIRE SOBRE OS TEMAS GERADORES
Algumas
considerações sobre o capítulo III do livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo
Freire.
A palavra que não tem ação e reflexão, portanto
práxis, é uma palavra oca. Mas, se somente enfoca a ação, sem reflexão,
trata-se de um ativismo e isto impossibilita o diálogo. É na palavra, no
trabalho, na ação-reflexão que os homens se fazem, e esta ação é um direito de
todos, por meio do diálogo, que é uma exigência existencial. E não há diálogo
se não há um profundo amor ao mundo e aos homens. Amor é ato de coragem. Não há
diálogo se não há humildade. Como posso dialogar se sempre percebo a ignorância
no outro, nunca em mim? A autossuficiência é incompatível com o diálogo. Também
não há diálogo se não existir fé nos homens e no seu poder de fazer e refazer. O
diálogo com amor, humildade e fé gera confiança. Por isso que não existe
confiança na concepção bancária da educação. Dizer uma coisa e fazer outra não
gera confiança. Além disso, não há diálogo verdadeiro se não existe um pensar
verdadeiro, um pensar crítico. Pensar crítico que transforme a realidade, mas o
pensar crítico precisa do diálogo. Sem ele também não há comunicação, portanto
não há educação. A educação bancária tem a característica de atuar sobre os
homens como forma de dominá-los e adaptá-los. Quem a pratica são os
dominadores. Na educação dialógica, o objetivo é libertar o povo e libertar-se
com ele. Um programa que se constitui em uma “invasão cultural” não traz resultados
positivos, mesmo que tenha a melhor das intenções. É a partir da realidade mediatizadora
que se buscará o conteúdo programático da educação. É essa busca que permite o
diálogo da educação como prática da liberdade e é também o que chamamos “temas
geradores”.