Reflexões a partir da leitura do texto “ EM DEFESA DA ESCOLA BILÍNGUE
PARA SURDOS: A HISTÓRIA DE LUTAS DO MOVIMENTO SURDO BRASILEIRO”, de Ana Regina
Campello e Patrícia Luiza
Ferreira Rezende.
No dia 12 de
maio tivemos o primeiro encontro presencial da interdisciplina LÍNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS. Primeiramente quero dizer que me surpreendi com
a aula. Foi um grande aprendizado. E assim como o inglês, o espanhol, o
francês, entre outros, LIBRAS também é uma língua. Se a aula fosse ministrada,
por exemplo, por um professor que falasse em francês, também precisaríamos de
um intérprete, já que nós, alunas da turma, não conhecemos a língua francesa.
A LIBRAS é uma
disciplina criada após regulamentação da Lei nº 10.436/
2002 que reconheceu como meio legal de
comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros
recursos de expressão a ela associados.
Lendo o texto de
Regina Campello e
Patrícia Luiza Ferreira Rezende me chamou a atenção o seguinte trecho: “Nós, os surdos, não queremos ser tutelados,
queremos o exercício da liberdade pela forma e escolha linguística e cultural
condizente com o nosso modo de viver e experienciar, de sermos surdos,
diferente dos ouvintes. Somente nós, surdos, que sabemos o que é melhor para
nós, da forma como precisamos ser educados, da forma como precisamos aprender,
que é pela instrução direta em nossa língua de sinais, língua soberana da
comunidade surda, que ajuda na formação da “Identidade Linguística da
Comunidade Surda”.
Para Stuart
Hall (1997), a cultura “determina uma forma de ver, de interpelar, de ser, de
explicar, de compreender o mundo”. Portanto, a cultura surda é construída na
relação entre surdos e na relação entre surdos e ouvintes.
Do texto,
também extraí um trecho da entrevista com Profa. Patrícia Rezende (diretora de
políticas educacionais da Feneis) se pronunciando sobre a ameaça de fechamento
do Colégio de Aplicação do INES. O Instituto Nacional de Educação de Surdos é
uma escola centenária e foi a primeira escola de surdos no País, abrigando e
educando vários dos líderes surdos de todo o País Na entrevista, Patrícia
coloca que a “atual política de inclusão
insiste em colocar crianças surdas junto com as ouvintes, sem haver um
compartilhamento linguístico entre elas. Nesses espaços, as crianças surdas
oriundas de famílias ouvintes não adquirem sua língua natural de forma
espontânea, como as crianças ouvintes que compartilham a mesma língua da sua
família interagindo e obtendo informações e, assim, construindo o conhecimento
de mundo, que é aprofundado na escola. Como haver inclusão se não há aquisição
linguística pela criança surda?” (O GLOBO, 2011).
Me chamou a
atenção no texto as colocações da Diretora de Políticas Educacionais Especiais
do MEC, Martinha Claret, à Revista da Feneis (2010b), ao ser questionada sobre
a importância das escolas de surdos para a valorização da cultura e das
identidades surdas: “[...] do ponto de
vista da educação inclusiva, o MEC
não acredita que a condição sensorial institua uma cultura. As pessoas
surdas estão na comunidade, na sociedade e compõem a cultura brasileira. Nós
entendemos que não existe cultura surda e que esse é um princípio
segregacionista. As pessoas não podem ser agrupadas nas escolas de surdos
porque são surdas. Elas são diversas. Precisamos valorizar a diversidade humana”
(FENEIS, 2010b, p. 23).
Especificamente
a parte em que destaquei no trecho da entrevista, contradiz a própria
constituição brasileira, já que, em seu § 3º do art. 5º diz claramente que as
pessoas com deficiência deverão fazer jus, em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas, a que sua identidade
cultural e linguística específica seja reconhecida e apoiada, incluindo
as línguas de sinais e a cultura surda.
Lutar pelas
escolas bilíngues para surdos não é segregação. Pude perceber no texto a luta do
Movimento Surdo em defesa das Escolas Bilíngues para Surdos, já que a ideia do
MEC era de que alunos surdos frequentassem as mesmas instituições de alunos ouvintes, mas sem
que tenham as mesmas oportunidades de acesso ao conhecimento. Isto sim é segregação,
ou também, eu poderia nomear como exclusão o fato de não oferecer as mesmas
oportunidades de acesso ao conhecimento para alunos surdos e ouvintes.
Não somente com o Movimento Surdo, mas com outros tipos de condições
especiais, a política
pública educacional não atendeu e ainda não atende realmente as necessidades de
cada um. Em muitos casos a educação inclusiva não funciona e a escola regular
acaba por praticar um excluasão. Cabe a pessoa que possui alguma condição
especial e/ou a sua família o direito de decidir o que é melhor para sua vida.
Em escolas regulares, aluno surdos receberiam Atendimento Educacional
Especializado (AEE), no contraturno e com poucas horas semanais e de forma
fragmentada. Eu, como professora da escola regular, sei que o serviço de AEE
não consegue contemplar todos os tipos de necessidades. Não temos professores,
por exemplo, que saibam LIBRAS ou Braille. Em caso de necessidade, seria
necessário formar um profissional dentro da rede para atuar junto ao aluno ou
esperar um processo de contratação. E enquanto isso não acontece?
Então a pergunta: por que a insistência de pessoas ouvintes, que estão
no poder para representar a população, em querer impor suas ideias e torná-las
leis por considerá-las a melhor solução sem ouvir e aceitar as ideias de quem
realmente seria afetado com estas leis?
Fonte da imagem: <http://danianepereira.blogspot.com.br/> Acesso em: 22/05/2016
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